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Peço Silêncio – Pablo Neruda

Atualizado: 23 de jul. de 2021


Peço Silêncio

AGORA me deixem tranquilo. Agora se acostumem sem mim.


Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas, cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.


A segunda é ver o outono. Não posso ser sem que as folhas voem e voltem à terra.


O terceiro é o grave inverno, a chuva que amei, a carícia de fogo no frio silvestre.


Em quarto lugar o verão redondo como uma melancia.


A quinta coisa são teus olhos, Matilde minha, bem-amada, não quero dormir sem teus olhos, não quero ser sem que me olhes: eu mudo a primavera para que me sigas olhando.

Amigos, isso é quanto quero. É quase nada e quase tudo.


Agora se querem, podem ir.


Vivi tanto que um dia terão de por força me esquecer, apagando-me do quadro negro: Meu coração foi interminável.


Porém, por que peço silêncio não creiam que vou morrer, passa comigo o contrário: sucede que vou viver.


Sucede que sou e que sigo.


Não será, pois lá bem dentro de mim crescerão cereais, primeiro os grãos que rompem a terra para ver a luz, porém, a mãe-terra é escura: e dentro de mim sou escuro: sou como um poço em cujas águas a noite deixa suas estrelas e segue sozinha pelo campo.


Sucede que tanto vivi que quero viver outro tanto.


Nunca me senti tão sonoro, nunca tive tantos beijos.


Agora, como sempre, é cedo. Voa a luz com suas abelhas.


Me deixem só com o dia. Peço licença para nascer.


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