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Poema para os Homens

Atualizado: 13 de jul. de 2021

Homens que São como Lugares Mal Situados


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Homens que são como casas saqueadas Que são como sítios fora dos mapas Como pedras fora do chão Como crianças órfãs Homens agitados sem bússola onde repousem Homens que são como fronteiras invadidas Que são como caminhos barricados Homens que querem passar pelos atalhos sufocados Homens sulfatados Por todos os destinos Desempregados das suas vidas Homens que são como a negação das estratégias Que são como os esconderijos dos contrabandistas Homens encarcerados abrindo-se com facas Homens que são como danos irreparáveis Homens que são sobreviventes vivos Homens que são sítios desviados Do lugar Homens que são como projectos de casas Em suas varandas inclinadas para o mundo Homens nas varandas voltadas para a velhice Muito danificados pelas intempéries Homens cheios de vasilhas esperando a chuva Parados à espera De um companheiro possível para o diálogo interior Homens muito voltados para um modo de ver Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro De si mesmo Homens tão impreparados tão desprevenidos Para se receber Homens à chuva com as mãos nos olhos Imaginando relâmpagos Homens abrindo lume Para enxugar o rosto para fechar os olhos Tão impreparados tão desprevenido Tão confusos à espera de um sistema solar Onde seja possível uma sombra maior Não levantemos os homens que se sentam à saída Porque se movem em seus carreiros interiores Equilibram com dificuldade uma ideia Qualquer coisa muito nítida, semelhante A uma folha vazia E põem ninhos nas árvores para se libertarem Da gaiola terrível, invisível muitas vezes De tão dura Não nos aproximemos dos homens que põem as mãos nas grades Que encostam a cabeça aos ferros Sem outras mãos onde agarrar as mãos Sem outra cabeça onde encostar o coração

Não lhes toquemos senão com os materiais secretos Do amor. Não lhes peçamos para entrar Porque a sua força é para fora e a sua espera É a fé inabalável no mistério que inclina

Os homens por dentro Não os levantemos Nem nos sentemos ao lado deles. Sentemo-nos No lado oposto, onde eles podem vir para erguer-nos A qualquer instante.

(Daniel Faria - *HOMENS QUE SÃO COMO LUGARES MAL SITUADOS)

*Homens que são como Lugares Mal Situados - foi publicado no verão de 1998, quando Daniel Faria tinha vinte e sete anos. Viria a morrer cerca de um ano depois, no Mosteiro Beneditino de Singeverga, onde era então noviço.


 
 
 

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